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Por suas singularidades, a história do Ginásio São José e do espaço que o abrigou traz consigo
laços diretos com os processos históricos de ocupação e povoamento que ocorreram em Ubá
e nesta região da Zona da Mata de Minas Gerais. Nesse sentido, contar, ainda que em linhas
breves, a história do local que serviu de sede ao Ginásio São José e a história seu fundador é também
narrar um pouco das origens históricas do município de Ubá.
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Data de um período compreendido entre os séculos XVI e XVIII a primeira leva de povoamento desta
região de Minas Gerais, desenvolvida por meio do que parece ter sido um lento processo de migração
de populações indígenas anteriormente estabelecidas nas regiões litorâneas do sudeste brasileiro, que
foram forçadas a adentrar nos interiores do continente em virtude dos embates constantes ocorridos
nestes anos com os colonizadores portugueses. Do que se sabe, as tribos que vieram a ocupar os
territórios desta parte da Zona da Mata mineira nestes anos eram em sua maioria pertencentes às
populações indígenas dos Coroados, Coropós e Puris (CARNEIRO, 1987, P. 51).
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No que tange ao povoamento colonizador português desta região da Zona da Mata da então Capitania
de Minas Gerais, o mesmo parece ter se iniciado ou se intensificado de maneira progressiva a partir
do último quartel do século XVIII. Dentre os motivos que explicariam a ocupação colonizadora
relativamente tardia da Zona da Mata em comparação com o povoamento de outras regiões mineiras
se encontraria o fato de que, até meados da década de 1770, parte deste região era considerado
zona proibida para ocupação pela Coroa Portuguesa3. Aparentemente, ao extinguir com esta restrição
nos anos 1770, parece ter sido intenção da Coroa lidar tanto com a necessidade de desconcentração
populacional da área mineradora virtude da progressiva decadência desta atividade, quanto
incrementar o abastecimento de víveres para toda a Capitania, então dependente de mantimentos
enviados de outras localidades da Colônia.
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Fazendo uso das margens dos rios que cortam a região e dos aglomerados de pequenos e grandes
vales próprios à geografia local, a ocupação colonizadora, em seus primórdios, teria inicialmente se
constituído a partir tanto da criação de laços de convívio nem sempre pacíficos com as populações
indígenas locais quanto da criação de pontos de apoio e de pouso para a movimentação de comerciantes,
missionários religiosos católicos e tropas da Coroa durante seus deslocamentos pela Capitania. De
maneira similar à colonização de outras áreas da América Portuguesa desde o século XVI, a ocupação
territorial da Zona da Mata mineira pelos colonizadores se deu inicialmente por meio da doação de
sesmarias pela Coroa a potenciais interessados em se estabelecer na área: os primeiros registros
existentes referentes a doação de terras da região datam de 4 de dezembro de 1797, data em que seis
famílias fizeram a requisição de sesmarias para fins de povoamento (PREFEITURA MUNICIPAL DE
UBÁ, 1980, P. 11, 12).
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Dentre as famílias que vieram a ocupar a região neste período, de especial interesse para a história do
município de Ubá deteve a família formada pelo Capitão-mor Antônio Januário Carneiro e Francisca
Januário de Paula Carneiro. Filho do alferes Antônio Carneiro e de Teresa Maria de Jesus e Silva e
descendente do bandeirante Manoel de Borba Gato (PREFEITURA MUNICIPAL DE UBÁ, 1980, P.
31), o Capitão-mor Antônio Januário Carneiro e sua família obtiveram a posse de terras nesta área
possivelmente nos primeiros anos do século XIX4. Nesta área, Antônio Januário Carneiro veio a
estabelecer a Fazenda Boa Esperança, em terras em que se situam os marcos iniciais do povoamento
do atual município de Ubá. Profundamente religioso, o Capitão-mor Carneiro teria doado parte das
terras de sua posse e solicitado à Coroa Portuguesa autorização para a construção de uma pequena
capela religiosa em louvor ao seu santo de devoção ainda durante os primeiros anos da década de
1810 (PREFEITURA MUNICIPAL DE UBÁ, 1980, P. 13). A autorização da parte do Príncipe Regente
D. João veio a ser concedida em 1815, e no local doado pelo Capitão-mor dentre as terras de sua
propriedade veio a ser erguida uma capela em devoção a São Januário:
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”Ao Capitão Guido Thomaz Marlière, D. João, por Graça de Deus, Príncipe Regente de Portugal e do
Algarves d’aquém e d’além mar em África de Guné, faça saber a Vós, Capitão Guido Thomaz Marlière,
Diretor Geral da Aldeia do Pomba, que na Junta Militar da Conquista e Civilização dos Índios foi vista a
Vossa carta de 14 de setembro do presente anno e conformando-me com a Vossa representação sobre
a necessidade e de erigir uma Capela no ribeirão Ubá anexa a Matriz de Prezidio de São João Batista;
para melhor cathechização das diferentes Aldeias de Índios Coroados que ali se acham estabelecidos
o requerimento de alguns portugueses, igualmente residentes que comprometem a construí-la à
própria despesa, sou servido a autorizar-vos para a fundação da referida Capela no sítio designado
debaixo da invocação de São Januário e que feito, e achando-se provida de imagens e ornamentos se
requererá competentemente ao Prelado Diocesano para mandas visitar e benzer.
[...] Vila Rica, 3 de novembro de 1815 (VIEIRA, 1990, P. 23).”